Quando somos crianças, estamos abertos para o mundo e para todos, queremos aprender tudo ao mesmo tempo, não temos medo do novo e desconhecido. Parece-nos não saber nada e imaginamos que os outros sabem tudo. Quando jovens, passamos a buscar nossas próprias respostas e colocamos em questão o saber dos adultos. Imaginamos saber tudo. Porém quando adultos nos damos conta de que a realidade é mais complexa do que conhecemos e imaginamos. Quanto mais avançamos em idade, sabemos que nada sabemos.
Hoje, com o avanço da ressonância magnética, comprovou-se que, quando as pessoas dão respostas objetivas, acionam áreas do cérebro ligadas à afetividade. O sujeito procura ativa e seletivamente dados que confirmem sua hipótese ou o seu preconceito inicial. O prazer de ter prevalece sobre argumentos e informações, produzindo cegueiras. A gente pensa e escolhe não no interesse da verdade, mas para sentir-se bem.
Cada um de nós tem uma forma individual de ver o mundo, de lidar com as novidades e de reagir a situações complicadas. A partir de nossa de nossas experiências, de nossas formas de perceber, sentir e avaliar, filtramos o mundo. Os acontecimentos não são o mais importante, mas sim a forma como os encaramos, e o significado que lhes atribuímos . Com o passar dos dias construímos visões diferentes e as interpretamos de formas opostas. Uns se consideram fracassados, outros consideram-se realizados, porque aprenderam a superar os obstáculos.
Para os pessimistas, estes só vêem problemas, porém para os otimistas, estes só vêem o que lhes interessae além disso fazem dos problemas uma oportunidade. O que acontece é que cada um de nós escolhe algumas pessoas como referência interpretativa do mesmo tipo, com crenças e referenciais semelhantes. Cada um tem a sua interpretação dos fatos.
Aprendemos com os grupos que nos interessam. Formamos comunidades de interesses que se apóiam a distância e que quebram a hegemonia dos controles e mídias tradicionais. O conhecimento sempre ficou confinado a territórios dominados por especialistas e por espaços reconhecidos oficialmente como as universidades. Os meios de comunicação também eram controlados por grupos culturais e econômicos elitistas. Com a internet e as redes digitais, amplia-se, de forma inimaginável até há pouco, o potencial de democratização do acesso e da produção do conhecimento. Qualquer pessoa pode ser produtora e consumidora simultaneamente e se multiplicam os grupos virtuais que aprendem juntos, se comunicam entre si e divulgam permanentemente suas produções ampliando o que Pierre Lévy chama de inteligência coletiva.
O conhecimento se dá no processo de interação externo e interno. Pela comunicação aberta e confiante, desenvolvemos contínuos e inesgotáveis processos de aprofundamento dos níveis de conhecimento pessoal, comunitário e social.
Na descoberta dos caminhos para viver, passamos por etapas de deslumbramento, desânimo, escuridão, realização, paz e inquietação. Em cada etapa, o horizonte se modifica: ora vemos o arco-íris na nossa frente, ora montanhas intransponíveis. Caminhar pela vida nos ensina também a relativizar quase tudo: teorias, promessas, perspectivas, crenças. Vamos mudando: o que nos servia numa etapa não nos ajuda mais. Idéias que pareciam superadas, de repente voltam a fazer sentido. Essa é uma das grandes lições da vida: sabemos que sabemos pouco e esse pouco não é o principal . O tempo nos ensina a humildade. No começo, pensamos ter mil explicações para tudo e descobrimos as razões dos nossos pensamentos e ações. Aos poucos, constatamos a complexidade que se escondem em cada pessoa, em cada interação, em cada decisão. Descobrimos que há um universo invisível e atuante junto com o visível. Conhecemos muito da superfície das coisas e pouco da profundidade, do que realmente fundamenta tudo.
Ao interagir-mos com pessoas diferentes vamos conhecendo outras formas de perceber, sentir, pensar, agir e interagir. Encontramos pessoas que parecem captar dimensões mais ricas da realidade por meios diferentes dos convencionais. Deixando de lado os que trapaceiam, vemos pessoas que são sensíveis, honestas e têm certos poderes de percepção ou de cura, fora dos padrões convencionais.
Nos encontramos em uma etapa de ampliação do conhecimento do universo em todas as dimensões: científica, psicológica e espiritual. O acesso fácil está contribuindo para uma aceleração da aprendizagem coletiva. Todos aprendemos com todos, não só nos espaços formais, mas também nos físicos e virtuais .
http://www.eca.usp.br/prof/moran/educacao.htm